Três destinos unidos por uma causa

11 Desember 1996

Maaf, artikel ini cuma disediakan dalam bahasa Portugal:

 

Diário de Notiçias, 11.12.1996

 Dois professores e um jornalista levam Ximenes Belo e Ramos Horta à Alemanha, onde vão ser recebidos por Herzog e Kohl

 MARIA ERMELINDA PEDROSA

Correspondente em Bona

Logo-diarionoticiasUm portugués e dois alemães, Jean Pierre Ferreira, Monika Schlicher e Carl Dietmar, são paladinos de Timor na Alemanha. Uma tarefa dificil, dado o desencontro de interesses entre o poder politico-económico alemão e a defesa dos direitos humanos.

Três destinos unidos pela mesma causa: a autodeterminacão de um povo e a responsabilidade da política externa alemã e portuguesa na defesa dos direitos humanos dos timorenses.

A atribuição do Nobel da Paz a Ximenes Belo e a Ramos-Horta vem de certo modo recompensar o seu empenhamento para a des-locação dos dois Préio Nobel à Alemanha, neste fim-de-semana, e.sobretudo os encontros com o Presidente da República, Roman Herzog, e com o chanceler, Kohl. É uma vitória humana e política.

Jean Pierre Ferreira e Monika Schlicher conheceram-se no início da década de 90 em Heidelberg, onde ambos estavam a estudar na universidade. Concluídos os cursos, o primeiro de tradutor e a segunda o de ciências políticas, e não obstante a mudança de Jean Pierre para Frankfurt am Main, o seu interesse por Timor não esmorecèu. Jean Pierre começou já na adolescéncia a interessar-se pela política portuguesa em relação ao território. Acabaria mesmo por escrever uma tese sobre o tema, decisão que Ihe valeu alguma incompreensão. Onde já se viu um linguista dissertar sobre política colonialista? «O 25 de Abril de 1974, acontecimento a que assistide longe e apenas com oito anos de idade, foi para mim muito importante», disse-nos em Frankfurt. E este tema haveria afinal de o acompanhar na adolescência e tempo académico. Jean Pierre não descurou as suas raízes. Ele é o elo de ligação entre a Watch Indonesia! e a Embaixada portuguesa em Bona, uma actividade que está a ser coroada de algum êxito.

O mesmo não se pode dizer das suas pretensões em realizar em Frankfiut um fórum sobre Timor-Leste. Confessou-nos, desencorajado e de certa forma perplexo, que não encontrou interesse por parte do Consulado. Resta-lhe a satisfação proveniente da sua colaboração na Watch Indonesia!, cabendo-lhe a tarefa acompanhar na Alemanha os refugiados timorenses que aqui se deslocam a convite desta ONG para elucidarem os alemães sobre a verdadeira situação que se vive em Timor.

Monika Schlicher, por sua vez, acaba de publicar o único livro sobre este tema na Alemanha, intitulado Portugal em Timor-Leste: de 1850 a 1912, apresentado este ano na Feira do Livro de Frankfurt. A actual assistente de ciências políticas na Universidade de Heidelberg deslocou-se em 1993 a Timor-Leste, juntando o útil ao agradável, pois estava também em viagem de núpcias! «Fui decerto a única alemã a passar a lua-de-mel em Timor, contactando e convivendo com a população… Tentei com esta tese encontrar resposta para as minhas perguntas, em especial para a causalidade do conflito, isto é, em que medida ele tem origem na política colonialista portuguesa.»

O diálogo com os timorenses, sobretudo os da geração mais velha, foram importantes e marcarantes. «Vim de lá com a convição de que tinha de me empenhar mais para que o desejo dos timorenses seja ouvido também na Alemanha…», disse-nos ainda Monika Schlicher. Em sua opinião, ainda há muito por fazer, sobretudo junto dos políticos alemães, dado que o excelente relacionamento económico entre o regime indonésio e a Alemanha obstam a uma defesa declarada do direito do povo timorense.

Enquanto Jean-Pierre e Monika encontraram a sua «pátria política» na Watch Indonesia!, .Carl Dietmar, como jornalista, tenta cativar a imprensa alemã para um tema que pouca atenção merece: «Tem sido dificil fazer artigos sobre Timor – a maior-parte dos redactores nem sequer sabia onde se localiza esta ilha e o que está em causa.» Na Austrália contactou com refugiados, que Ihe descreveram as crueldades cometidas pelos indonésios.

Carl, que esteve ontem em Oslo, foi o primeiro jornalista alemão a denunciar o fornecimento de navios de guerra alemães aos regime de Suharto.


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